quarta-feira, 17 de junho de 2015

Intolerância Religiosa

Por Edward Neves Monteiro De Barros Guimarães*
ednmbg@gmail.com
MEUS ALUNOS DESEJARAM MUITO SABER O QUE EU PENSAVA SOBRE O QUE TINHA ACONTECIDO NA PARADA GLBT... EU RELUTEI, A PRINCÍPIO, MAS DEPOIS RESOLVI ESCREVER SOBRE ESTE ASSUNTO TÃO DELICADO PARA  ALGUNS.
Eu, sinceramente, como cristão, não fiquei ofendido quando contemplei a utilização da cruz, na parada Gay, com o objetivo de enviar uma mensagem a toda sociedade brasileira marcada pela fé cristã sobre as condições desumanas e violentas a que tantas pessoas humanas estão diariamente submetidas por causa de sua sexualidade. Aquela forma de clamor-denúncia com uma mulher na cruz foi direta e tinha como alvo claro mostrar a nossa indiferença ou conivência social.
Jesus não foi o único crucificado pelo Império Romano e, além disso, há muitos crucificados em nossa história e, sobretudo, hoje pelos novos "impérios". Como cristão, quando contemplo a cruz vejo mais do que o símbolo dos cristãos ou um enfeite-amuleto contra o mal. Quando olho para cruz contemplo sim a fidelidade de Jesus até as últimas consequências ao projeto salvífico universal do Reino de Deus! Ele deu a vida pelo que acreditava e dava sentido último ao seu viver. Fiz da "causa" de Jesus a minha fonte de sentido último e, procuro, no meu dia a dia, pautar as minhas atitudes e posturas pessoais e sociais tendo como referência maior a pessoa de Jesus, seus ensinamentos e gestos proféticos. Inclusive, o de sentar-se a mesa com os pecadores e afirmar que as prostitutas nos precederão no Reino dos Céus.
Além disso, querem saber o que realmente ofende a minha fé? Confesso que não tem a ver com agressão a símbolos, mas ao ser humano. É conviver diariamente e de forma impotente com a realidade de miséria e a fome de tantos irmãos e irmãs... É reconhecer a existência de velhas e novas formas de injustiça e desigualdade social a se eternizar entre nós... É perceber a quantidade de atitudes e posturas preconceituosas, discriminatórias e de violenta intolerância sexual, étnica e religiosa a se perpetuarem em nosso meio... É saber que até hoje não aprendemos a cuidar da casa comum e desenvolver um jeito de viver-conviver sustentável e que cuida do equilíbrio ambiental e do afeto para com os mais vulneráveis por causa da centralidade do valor e da dignidade da vida.
Aprendi que Deus não precisa ser defendido, pois ele é soberano e o que sustenta a nossa autonomia. Quem precisa de cuidados somos nós, pois, a vida é frágil e carente de amor do nascimento até o fim! Aprendamos, então, a amar e cuidar uns dos outros!
Aprendi, com a fé cristã, que Deus ao criar coloca entre parênteses a sua soberania absoluta para que tenhamos liberdade, e ele sofre com a nossa dor. Enviou-nos o seu Filho para revelar que seu maior desejo, se posso falar assim de Deus, é ser um Deus pertinho de nós. Deus é Amar! Por isso o culto maior a Deus não é a defesa da religião, mas o amar o próximo de forma a promover a vida plena.

* Professor de Cultura Religiosa da Puc Minas. Secretário Executivo do Observatório da Evangelização. Mestre em Teologia Sistemática. 

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